segunda-feira, 21 de junho de 2010

Pés de Lótus

O que hoje nos horroriza ao tomarmos conhecimento da existência dos “pés enfaixados”, ou “lótus de ouro”, que as mulheres na China suportavam, foi um costume adaptado desde o início do século X.
Uma das versões apontadas para a existência desta prática, foi que, um imperador nos finais do século IX, ficou encantado por ver uma concubina com os pés muito pequenos, dançar sobre um palco em forma de flor de lótus, onde passou a derivar esse nome às mulheres chinesas que passaram a deformar os seus pés.
Outras fontes dizem que o nome se refere ao formato dos pés – que ficam curvados para cima, em forma de “lótus”, depois de anos e anos enfaixados com ligaduras apertadas o suficiente para quebrar os ossos, arqueando o pé e interrompendo assim o seu crescimento.
Começavam a ser enfaixadas a partir dos cinco ou seis anos, uma tradição passada de mãe para filha cujo processo era torturante, porque as ligaduras dobravam os quatro dedos menores até a sola dos pés e forçavam o calcanhar para dentro, exagerando o arco.
A carne apodrecia e as crianças choravam em agonia, incapazes de comer, beber ou pensar devido à dor, mas as mães faziam-no a pensar no futuro das filhas, porque nessa época, se não tivessem os pés pequenos, não arranjavam um bom casamento, uma vez que as mulheres de “pés de lótus” eram as preferidas pelos senhores de negócios, que se orgulhavam de possuir em sua casa, um “exemplar” tão cobiçado.
Famílias pobres viam neste processo a possibilidade de conseguir uma vida melhor para as filhas, para demonstrar valor e o status.
O que é facto, é que muitos chineses dessa época achavam os “pés de lótus” muito eróticos, considerados a parte mais íntima da anatomia da mulher.
Um pé enfaixado com sucesso, tinha de 7cm a 10cm. Andar era difícil: as mulheres oscilavam de um lado para o outro, o que também evocava a imagem da flor de lótus ao vento…
Estas mulheres não podiam fazer uma vida normal, porque não conseguiam andar sem ajuda, a não ser que se arrastassem. Tinham de ter alguém que as ajudassem a cuidar dos afazeres domésticos e que as ajudassem também a tratar das crianças.
Banquinhos eram colocados pela casa para que elas se movessem sem ter de pisar o chão, ou teriam de andar sobre os joelhos, com inchaços e bolhas de proporções excruciantes. O lazer de muitas destas mulheres era criar e bordar sapatos que elaboravam para si mesmas. A habilidade para decorar esta deformidade fazia parte da "arte" daquela época.
Durante última dinastia chinesa Qing, tentaram banir esta prática, mas ela estava tão enraizada, que não surtiu qualquer efeito e as mães de família continuaram a enfaixar os pés das suas filhas, na esperança de lhes assegurar o futuro através do casamento com um homem rico. Este costume só foi abolido em definitivo, quando os comunistas tomaram o poder em 1949.
As mulheres que viveram desde crianças com os seus pés atados, apesar das suas histórias do martírio e da dor que envolveu o enfaixe dos pés, sentem porém um grande orgulho por terem atingido a beleza imposta pela sociedade e pelos homens, que as admiravam naquela sua deformidade pois, com os pés enfaixados, a mulher caminhava de forma vacilante, o que, segundo a crença, tinha um efeito erótico nos homens, sobretudo porque ela parecia vulnerável e despertava neles um impulso protector.
Repentinamente e com a reforma comunista, estas mulheres passaram a ser objecto de escárnio, tornando-se a ser tão repulsivo, quanto ridicularizado esse seu andar.
Hoje, olhando para estes sapatinhos na palma da mão, de tão incrível pequeneza que desafiam a descrição e fico a pensar, quanto sofrimento foi preciso para um pé humano ficar naquele tamanho? Quanto sofrimento foi preciso para estas mulheres agradarem e, essencialmente, para sobreviver, sacrificando-se assim à diferença... Pese a sua opressão secular, as mulheres chinesas traziam no peito a revolta, a coragem e uma imensa capacidade de lutar para transformar a vida.

2 comentários:

Anônimo disse...

que horror!

luiza disse...

nossa, só de pensar em quanto sofrimento isso causaria, eu prefiriria não casar!